'REDES SOCIAIS SÃO FALATÓRIO APOLÍTICOS',DIZ SOCIÓLOGO
Jornalista, sociólogo e tradutor, Muniz Sodré, professor de Comunicação Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), é um dos estudiosos mais requisitados para falar sobre jornalismo e também sobre educação brasileira. Já publicou quase uma centena de livros e artigos, incluindo obras de ficção. Autor de Comunicação do Grotesco e Monopólio da Fala, já rodou o mundo para proferir palestras, algumas na Suécia, França, EUA, Espanha, Portugal, Colômbia, Bolívia, Uruguai e Peru Muniz Sodré. Pessoalmente, acho que as redes sociais são espaços democráticos apenas no sentido contemporâneo de “democracia social”, isto é, a democracia molecular que mais tem a ver com costumes, cultura e atitudes do que com a clássica democracia representativa, vetorizada pela política. Tende-se a pensar nas redes como uma ampliação do espaço público, mas isto é verdade apenas do ponto de vista técnico, porque a esfera pública tradicional é visceralmente política. As redes sociais na internet tipificam um interminável falatório apolítico, em que o privado se faz público, mas da forma mais perfunctória ou superficial que se possa imaginar. É uma “democracia” fofoqueira, de comadres. Acho que a resistência de muitios eleitores à presença da política eleitoreira nas redes se deve à náusea pública com comportamento da classe política e com a perda das ilusões quanto ao resgate das questões sociais pela democracia parlamentar. As redes são vistas como entretenimento e camaradagem. Como inserir aí a corrupção e a lama moral? Acostumados à comunicação unilateral, onde as mensagens são emitidas sem a preocupação de ouvir o receptor, grande parte dos candidatos ainda usa as redes sociais sem explorar a interatividade com os eleitores, sem interesse de dialogar com eles. Esta situação é resultado de uma cultura ou, em sua opinião, o político brasileiro não tem mesmo interesse de interagir? A classe política ainda não conseguiu entender o conceito de “mídia”. Por isso, aborda os dispositivos comunicacionais do mesmo modo que os chefes de currais eleitorais abordam a imprensa regional e os eleitores: transmitindo, unilateralmente, o bolodório enganador. Interatividade incomoda. Isso vale para esquerda e direita. Percebe-se que as redes sociais são “invadidas” pelos políticos com mais intensidade nos períodos de campanha eleitoral. Texto do Sociólogo Muniz Sodré